segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dizer adeus ao tempo e acolher outro tempo

Estamos a dias de saudar um novo ano (pensando bem, isto das datas é estranho, como estranha é a vida que vivemos quando comparada com a que sonhámos viver), é tempo de esperança num futuro que queremos melhor e mais bonito. Conheço as palavras mas não as sei juntar para dizer o que quero, por isso deixo-vos as palavras juntas de Mário de Sá-Carneiro:
"O que devemos é saltar na bruma,
Correr no azul à busca de beleza"
Em 2009, saltemos e corramos até A achar - a beleza, a serenidade, a alegria, a fé, a esperança, a felicidade.
Feliz ano novo.

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ana Salomé

Hoje, a Poesia esteve na nossa escola: Ana Salomé foi visitar-nos.
E, não bastasse o que nos ofereceu, ainda escreveu isto no seu blogue www.cicio.blogspot.com
«Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2008 Poesia & Paris Hoje tive um dia muito bonito, mas muito intenso, na Escola de Barcelinhos, a convite de Aida Lemos, que foi também minha professora na Universidade, e que me fez sentir, como sempre, em casa, para falar de poesia com os alunos, apresentar-lhes as Odes, e moderar um pequeno concurso de versos em linha (ideia que retirei da iniciativa que decorre na Centésima Página). Ganhou a Cláudia que tinha uma irmã gémea. Receberam-me, mais uma vez, com o coração aberto. É a segunda vez que vou à escola. Fiquei muito comovida com os olhares atentos e doces, com o espanto, com a cara de alegria dos miúdos todos cheio de estilo por descobrirem que conseguiam escrever um verso sobre a palavra favorita deles, com a predisposição para conversarem sobre poesia (citei Pavese, Mário Dionísio, Eduardo Lourenço, Al Berto, Hugo von Hofmannsthal, Henrique Fialho, etc.) e ouvirem-na, com as leituras que prepararam dando-lhes uma respiração nova para mim, com os comentários que teceram, com a generosidade dos sorrisos e da flor artesanal que me ofereceram com as minhas iniciais bordadas, com a presença repetida das meninas lindas do 12ºF na parte da tarde, com a ajuda do Bruno, a simpatia da bibliotecária, a amabilidade dos professores e dos estagiários, com o ramo radioso de girassóis, com o coração parado a ouvirem o Mário Viegas a encantar um poema, com os olhe aqui um poema que fiz sobre si agora mesmo, com os livros apertados nas mãos, com os cadernos à espera do nome e do xi-coração, com a vontade de chegarem a casa e terem sentido que hoje valeu a pena para um amanhã. Fico com uma enorme esperança no mundo ao ver como é possível fazer acontecer poesia nas escolas como se estivéssemos todos sentados numa praia a contemplar um mar de azeite ou uma laranja a levitar na mão de um homem com cabeça de vidro. Hoje à noite, depois do jantar, vou finalmente a Paris comer pipocas. Tenho de me despachar a comer a sopa.»
Obrigada, Catarina.

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Manoel de Oliveira: 100 anos de vida e 77 de carreira: Parabéns!

«Citado por Eduardo Prado Coelho em A Mecânica dos Fluídos, Oliveira descreve a imagem. «Como sabem, a gama de cor é enorme e o que é visível é muito pequeno. Para a nossa vista o que está aquém dos raios vermelhos já não se vê e o que está para além dos raios violetas também já se não vê. Se nós tivéssemos uma visão total, talvez que pudéssemos ver a alma...» É a isso que o cinema tantas vezes incompreendido de Oliveira nos leva. A "ver a alma" das suas "desalmadas" personagens. Os brutos acham-no "parado". Como ele, na juventude e na ironia do seu centenário, se deve rir deles. Parabéns, Manoel.»(João Gonçalves, http://portugaldospequeninos.blogspot.com/)

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

José Saramago - Prémio Nobel da Literatura 1998

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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"O Vazio depois de Ti" por Ana Andrade

Nota da autora: Este texto foi escrito na altura da morte da irmã da minha amiga Elsa. Neste texto tento encarnar e transmitir os sentimentos despertados na Elsa por essa partida precoce. Por este motivo, o narrador do texto fala como se de uma personagem se tratasse.

Dedicado à Elsa

Num momento estás aqui e eu posso tocar-te, passar a minha mão nos teus cabelos, como que dizendo que estou feliz porque estás comigo. Posso abraçar-te só para sentir o teu coraçãozinho bater-te dentro do peito: o sinal de que preciso para sentir que estamos juntas para sempre e que nenhum punhal carregado de dor nos vai cravar no coração a angústia de nos perdermos uma à outra. Abraçar-te dá-me a certeza de que estarás sempre aí, do outro lado do espelho, à espera que, num dia chuvoso, eu irrompa pelo quarto e te peça consolo porque um qualquer Nada rompeu a teia de ilusões que eu criara à volta de tudo. Num momento eu ouço-te repetir que me amas e eu relembro-te que também te amo porque és minha irmã, a minha imagem do outro lado do espelho que se uniu a mim numa comunhão de sangue e amor. A minha imagem que partilhou o mesmo ventre, o mesmo leite materno, o mesmo carinho dos pais… Invariavelmente, somos um pedaço dos mesmos corpos que se uniram para nos criar, somos um pedaço da mesma alma, uma voz da mesma boca que se separou quando enfrentou a realidade desta tão precária existência. Pertencemo-nos! Num momento posso fechar os olhos com segurança porque sei que, quando os abrir, tu estarás diante de mim, a sorrir-me e a dizer que tudo está bem porque estás comigo… Num outro momento as chuvas inundam cada pedaço do meu corpo, provocando um dilúvio de angústias que me afogam a alma. Num outro momento, não te disse o quanto te amava e o quanto precisava de ti, porque eras a parte de mim que me puxava sempre para a Vida quando o mais recôndito de mim me puxava para o Esquecimento. Num outro momento esqueci-me de existir porque tu já não existias, porque te aventuraste num mundo onde eu não estava presente. Porque deixaste de ser o meu reflexo no espelho e passaste a ser um dos anjos que carrega o peso do mundo às costas; um dos anjos que, por cada ser que sofre uma dor desumana, sente o punhal do sofrimento cravejar-lhe o peito. Num outro momento fecho os olhos mas tenho medo de os abrir e, por isso, permaneço cega perante as atrocidades que se abatem sobre tudo. Fecho os olhos na esperança de, quando os abrir, verificar que estiveras sempre diante de mim, sorrindo, esperando que eu os abrisse para me repetires mais uma vez, e mais uma vez, e mais uma vez que me amas e que nunca me deixarás… Num outro momento abro os olhos e sinto-os arder no esforço cruel de os obrigar a ver-te, de os obrigar a distinguir-te no meio das sombras do quarto. Sei que não estarás mais aqui, sei que não poderei lembrar-te uma vez mais, e uma vez mais, e uma vez mais que te amo. Sei que não mais chorarei no teu colo. Sei que um pedaço de mim partiu, mas recuso-me a deixar-te ir. Continuei à tua procura durante muito tempo nas sombras do quarto. Um dia desisti de procurar-te cá fora e comecei a procurar a parte que me falta dentro de mim. Passo a maior parte do dia de olhos fechados, perscrutando em cada milímetro da minha mente por um vestígio da tua presença. Procuro, procuro, procuro: só encontro vácuo. Um vácuo que ressoa como um grito silencioso nas paredes de um quarto vazio. O vácuo. O vácuo. O vácuo. Sempre o vácuo. Num outro momento já não estavas aqui porque tinhas morrido.

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"Línguas de Perguntador" de 3 de Dezembro

Estimado e atento leitor, estamos de regresso com mais uma edição das Línguas de Perguntador. É com enorme prazer que damos continuidade ao trabalho que tem vindo a ser realizado pelos nossos colegas do Clube da Língua Portuguesa (CLP) da Escola Secundária de Barcelinhos. E estamos cá de novo, pois queremos que os nossos leitores se deliciem com a leitura desta nossa rubrica e não que fiquem “a ver navios". Cá está mais uma expressão muito utilizada na nossa linguagem do dia-a-dia e que vem de há muito tempo atrás. Dom Sebastião, jovem e querido rei de Portugal (séc. XVI), desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos. O seu corpo nunca foi encontrado e os portugueses recusavam-se a aceitar a morte do monarca. Era comum as pessoas subirem ao monte de Santa Catarina, em Lisboa, na esperança de ver o jovem rei regressar. Como ele nunca regressou, o povo ficou a ver navios… Muitos falantes portugueses já nem se devem lembrar deste facto histórico. Certamente que andam a “comer muito queijo”, pelo que se esquecem muito. Será?! Esta é uma antiga crença popular na qual o queijo é visto como um alimento nocivo à memória. Felizmente para todos os amantes deste produto, a ciência veio comprovar que esta crença não tem verdadeiro fundamento. Pelo contrário, sabe-se hoje, por meio das conclusões provenientes dos estudos sobre memória e nutrição, que o leite e o queijo são fornecedores privilegiados de cálcio e de fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Agora os nossos leitores já sabem que podem comer queijo “à grande e à francesa” – expressão que significa viver com luxo e ostentação, originária do tempo em que o general de Napoleão, Junot, chegou a Portugal na primeira invasão francesa e ele e os seus acompanhantes se passeavam vestidos de gala pela capital portuguesa. Assim nos despedimos quase chorando, mas não “lágrimas de crocodilo”, não pensem!...E por que se dizem de crocodilo estas lágrimas e não de tigre ou até mesmo de rã? Provavelmente a maioria dos fingidores sabe a resposta que vamos dar: o crocodilo quando insere um alimento faz forte pressão contra o céu-da-boca, comprimindo as glândulas lacrimais, pelo que "chora" enquanto devora a vítima. Nada agradável, pois não? Está na hora de terminar, mas prometemos voltar em breve. Para a semana as Línguas de Perguntador estão de regresso com outros elementos do CLP. Não se esqueçam de enviar sugestões, dúvidas, curiosidades para lperguntador@gmail.com e até breve! CLP – Márcia Figueiredo e Susana Fernandes 12ºE

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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

1 de Dezembro de 1640 - Restauração da Independência

(Coroação de D. João IV", Veloso Salgado 1908)
No dia 1º de Dezembro assinala-se a restauração da Independência de Portugal. Falecido o cardeal-rei D. Henrique, em 1580, sem ter designado um sucessor, Filipe II de Espanha, neto do rei português D. Manuel I, invadiu Portugal e submeteu-o a 60 anos de domínio. Foram três os reis espanhóis que governaram Portugal entre 1580 e 1640 – Filipe I, Filipe II e Filipe III. A capital do Império passou a ser Madrid e Portugal foi governado como uma Província espanhola.Como é natural, os portugueses viviam descontentes e compreendiam que só uma revolução bem organizada lhes poderia trazer a libertação.Assim, no dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de 40 fidalgos dirigiu-se ao Paço da Ribeira onde estavam a Duquesa de Mântua, regente de Portugal, e o seu Secretário, Miguel de Vasconcelos.A Duquesa foi presa e o Secretário morto. Foi assim que Portugal recuperou a sua independência, sendo D. João IV,. Duque de Bragança, aclamado rei, com o cognome de "O Restaurador".

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Dia Mundial da Luta contra a Sida

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domingo, 30 de novembro de 2008

Morte de Fernando Pessoa - enviado por Marta (12ºF)

“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia
Não há nada mais simples
Tem só duas datas – a da minha nascença e da minha morte
Entre uma e outra todos os dias são meus.”
(Alberto Caeiro)
Há 73 anos morria Fernando Pessoa. Entre 1935 e 2008 muita coisa, aparentemente, mudou. Mas a sua poesia persiste, a sua obra mantém viva a chama da alma do Poeta. Como conselho para um Domingo chuvoso, recordem Fernando Pessoa e meditem na sua mensagem. Eis alguns dos meus poemas preferidos, que ficam apenas como exemplo do seu talento e criatividade.
“Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.” (Fernando Pessoa)
“ Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.” (Fernando Pessoa)

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«Ana, entre a Colômbia e Portugal» de Anabela Cardoso, Diana Monteiro e Luciana Araújo, 3º prémio Concurso Europeu,categoria trabalho escrito grupo

(Foto de Ana Morkazel)Estávamos no dia 3 de Setembro de 2006, dia triste, melancólico, monótono, quando Ana chega pela primeira vez a Portugal apenas com uma mochila, sozinha, e trazendo consigo muita saudade da sua mãe e do seu país de origem. À sua espera, na aldeia transmontana de Vila Flor, encontrava-se o seu pai Joaquim, o qual já não via há muito tempo. Quando chegou, Ana não se identificou com o espaço observado, tudo era diferente! Enquanto que na Colômbia, seu país natal existia uma abundante movimentação de pessoas e de carros, havia mais cor e, também, um acentuado desenvolvimento político, económico e sociocultural, em Vila Flor, a situação era antagónica, tudo parecia parado. Ana era uma adolescente solitária, pouco sociável, triste e algo perturbada, devido às controvérsias da sua relação familiar, na qual o afecto e o convívio eram inexistentes, pois os seus pais estavam divorciados. Ana vivia na Colômbia com a mãe, de seu nome Rosa, mas a relação destas era muito distante e conflituosa, porquanto a sua mãe era viciada no jogo. Com o passar do tempo, esta situação agravou-se de tal forma que Rosa ficou endividada. Deste modo, Rosa, estando incapacitada de educar Ana, e não tendo família que a amparasse, pois os seus pais haviam cortada relações com ela por causa de um seu relacionamento amoroso com um homem negro, teve de pedir ao seu ex-marido para cuidar de Ana temporariamente. Logo nos primeiros dias em Vila Flor, Ana sentiu-se muito distante do pai, pois até então a única forma com que comunicava com ele era através do telefone. Para além disso, sentia-se triste, abandonada e mal inserida no seu novo quotidiano, pois a língua diferente dificultava-lhe o relacionamento com os poucos vizinhos que tinha e, sendo Vila Flor uma aldeia com grande atraso cultural, Ana não saía de casa, nem se podia divertir em entretenimentos a que estava habituada no seu país: o computador, os seus programas televisivos, etc. A 15 de Setembro, Ana vai para a sua nova escola, mas nunca abre o seu coração para fazer grandes amizades, pois tem consciência de que o seu regresso à Colômbia está breve. Passados alguns dias, começou a sentir-se mais integrada no meio onde vivia agora: habituou-se às badaladas do sino da igreja de Vila Flor, começou a frequentar a Igreja, indo à missa, e acostumou-se, ainda, ao vestuário e gastronomia de Portugal. Pouco a pouco, aprendeu também algumas palavras portuguesas, o que lhe facilitou a comunicação com os outros. Com efeito, pôde fazer novas amizades e, inclusive, conhecer alguns membros da sua família, dos quais nunca ouvira falar. Um dia, Ana chegou da escola e reparou que o pai estava a falar ao telefone com a sua mãe. Foi então que Joaquim lhe noticiou que Rosa estava recuperada e que Ana tinha de regressar à Colômbia. Nesse instante, Ana sentiu um turbilhão de emoções, pois apesar de ter saudades da mãe e dos amigos, adaptara-se ao seu novo estilo de vida e havia-se reaproximado do pai. Ana ficou indecisa em relação ao seu futuro, pois, para além de ser ter habituado à vida que levava em Vila Flor, tinha também um sonho profissional: ser cientista. Dado que em Portugal havia um grande atraso nesta área, e na Colômbia existiam condições mais favoráveis para a concretização desse seu sonho, Ana resolveu regressar à Colômbia. A 13 de Novembro, Ana despede-se do pai e dos amigos, deixando-os com muita nostalgia e parte para o seu país. Quando chegou à Colômbia, Ana sentia-se feliz e orgulhosa por a mãe ter recuperado do seu vício; e iniciou uma nova vida bicultural, vivendo simultaneamente a sua cultura de origem e a cultura portuguesa, cujas tradições e costumes divulgou junto daqueles com quem se relacionava.
Anabela Cardoso, Diana Monteiro e Luciana Araújo (12ºF)

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"O Sonho Europeu" de Marta Carvalho (12ºF) - 2º prémio no Concurso Europeu , 2008, categoria trabalho escrito individual

“Próxima paragem: Santa Apolónia!”. Melissa tinha adormecido por breves instantes e só despertara com o aviso de que, finalmente, chegara ao seu destino. A viagem tinha sido longa e, exausta, olhava agora a paisagem: o verde da simplicidade da sua terra dava lugar ao cinzento dos prédios inacabados e às cores garridas da vida citadina. Parecia-lhe difícil imaginar-se longe da família, daqueles que mais amava. Pôs o pé numa nova cidade, e à medida que caminhava deixava uma vida para trás e seguia em frente, em busca de um sonho. Ao chegar à sua nova residência, Driss recorda as casas caiadas da cidade onde cresceu e a pequena loja de artesanato dos pais. Casablanca já não era a mesma cidade que os Portugueses criaram em 1515. Tinha-se tornado a maior cidade de Marrocos, encobrindo, contudo, a pobreza que não convinha mostrar ao mundo. À semelhança dos seus colegas, Driss vinha em busca do sonho europeu. Sabia que as condições do seu trabalho seriam precárias e que os primeiros tempos não se adivinhavam fáceis. Era jovem e ambicioso, com a certeza plena que só com esforço e dedicação poderia afirmar-se na sociedade. Apesar dos seus estudos e capacidades, apenas tinha emprego na construção civil. Mas não baixava os braços, era um lutador. As aulas tinham começado e, apesar das dificuldades de adaptação, Melissa já tinha uma amiga: Ana. Unidas pela nostalgia do Norte, debatiam-se, todos os dias, com as diferenças de comportamentos e de mentalidades, e pensavam: “Como é possível que dentro de um mesmo país exista tanta diversidade?”. Ao anoitecer, num dia de Inverno rigoroso, quando regressava das aulas, sozinha Melissa descia a rua até à residencial. Eis que é surpreendida por dois homens que a amarram, numa tentativa de roubo. Ao ouvirem um barulho, alguém que se aproximava, os assaltantes são desencorajados e fogem. Caída no chão, Melissa vê uma mão a estender-se na sua direcção e, sem hesitação, aceita a ajuda. Recomposta e com um sincero “obrigada!”, descobre um belo rosto de tez morena que a recebe com um sorriso. Na busca de um sentido, deambulando pelas ruas da cidade, Driss acaba por ajudar alguém que, como ele, precisava de um ombro amigo. Ficaram amigos. Sim. Mas talvez um sentimento mais forte, eterno, e inexplicável os unia: o amor. Passavam os dias juntos, a conversar, os fins de tarde a olharem o pôr-do-sol e, à noite, separados por um mar de diferenças, imaginavam como seria bom poderem estar juntos. Mas, a Lua chegava e, cada um no leito, adormeciam na esperança de um novo amanhecer. Os dias foram passando, Melissa e Driss continuavam amigos, construindo o seu amor como uma calçada, onde cada pedra se fortalece com o tempo. Juntos estavam bem, esqueciam as diferenças, as dificuldades e a discriminação. Juntos eram iguais; filhos da mesma criação. Embora com crenças distintas, o Deus era o mesmo, que os criou à sua imagem e semelhança para que, embora diferentes, se pudessem amar uns aos outros como Ele os amava. A primavera estava a chegar e com ela o termo dos 6 meses de trabalho para Driss. Em Abril, teria de deixar Portugal com os sues companheiros, de regresso a casa, ou tentar a aventura de sobreviver num país diferente, sem a família e sem qualquer garantia de futuro. Apesar das longas conversas com Melissa, Driss nunca lhe contara este triste final do seu sonho na Europa. Porventura ainda não tinha tomado uma decisão. Mas agora que a data se aproximava era tempo de reflectir e decidir o que fazer. Vislumbrava duas hipóteses possíveis: regressa para Marrocos e esquecia a sua “bela portuguesinha”, como chamava a Melissa, ou persistia no seu amor e lutava com veemência. Até ao último dia, Melissa desconhecia a decisão que o seu enamorado havia tomado. “Teria ele coragem para deixar para trás tudo o que tinham vivido? E, mesmo na hora da despedida, não teria audácia para a beijar apaixonadamente como há meses esperava?”, pensava Melissa. No mesmo sítio onde se conheceram há meses atrás, encontravam-se agora para decidir o futuro. Driss tinha pensado naquela semana e sabia de que forma aquela decisão alteraria a sua vida. “ Quero que saibas que a mais ninguém me entreguei assim, e que acredites que o nosso amor vai ser até ao fim. Mas os meus pais precisam de mim e a minha vida é lá. Vou sentir muito a tua ausência…”. Melissa não podia acreditar no que acabara de ouvir. Ele ia deixar para trás o que tinham vivido, sim. Pensava ela que sem explicação, iria sair da sua vida da mesma forma que tinha entrado: inesperadamente. A despedida de Driss tinha sido dolorosa. Ajudara-o em todo o processo da viagem e, já no último momento, despedira-se dele com a promessa de contacto permanente e de, um dia talvez, um regresso. Separados por um espesso vidro, lançavam os últimos olhares: como era agora igualmente espessa a barreira que os separaria. Por entre terra e mar, disjuntos pelo inexorável destino, dois corpos que um dia desejaram estar juntos. O último adeus. Passavam dias, semanas…Seis meses tinham-se completado desde a partida de Driss. Melissa continuava a dedicar todo o seu tempo aos estudos. Tinha um sonho de vida e lutaria até ao fim para o concretizar. Mas algo estava diferente. Continuava dedicada e empenhada nos estudos, mas as notas tinham reflectido um cansaço, cuja causa não se identificava à primeira vista. Seria a distância da sua terra natal? A dificuldade de adaptação a um novo ambiente, bastante mais complexo do que o seu anterior? Sim, mas de certa forma todas as diferenças se esbatiam quando comparadas com a ausência do fiel e conselheiro ombro amigo de Driss. Como sentia a sua falta! E os meses continuavam a passar. Mês após mês, carta após carta o vazio penetrava em seu coração. E, depois de três anos sozinha, Melissa mantinha a esperança. Mas as cartas ou as lembranças, rareavam. De uma carta por semana, Driss passou apenas a escrever uma de três em três meses. Seriam poucas as notícias, muita a dor do sofrimento, ou já o esquecimento? Eis que chegara ao final do seu mestrado. Melissa sentia-se agora apta para integrar o mercado de trabalho. Tinha várias propostas, um futuro promissor. Contavam-se participações nas maiores multinacionais, relações internacionais ligadas ao sector económico, uma carreira brilhante esperava-a. Mas o futuro é sempre incerto. E, apesar de todos os planos, o bafejar do destino tudo mudaria. Melissa ia em direcção à sua residência universitária. Estava na hora de abandonar o seu abrigo dos últimos anos. Ao sair para a rua, com as malas na mão, relembra aquela mão que se estendera para ela, ali, e alteraria a sua vida para sempre. Distraída, deixa cair uns papéis e uma mão os recolhe e leva até si. O meu rosto de tez morena de há anos atrás olha-a ternamente. Agora juntos, tudo mudaria. Podiam ter sonhos diferentes e, aparentemente, tudo neles se mostrava distinto. Mas, apesar das diferenças, partilhavam um sentimento maior do que eles e maior que tudo – o verdadeiro amor.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parabéns!! CLP's premiadas no 55º Concurso Europeu

CLP's premiadas no 55º Concurso Europeu, "A Europa na Escola", 2008:
Marta Carvalho (12ºF): 2ºlugar na modalidade trabalho escrito individual.
Anabela Cardoso, Diana Monteiro e Luciana Araújo (12ºF): 3º lugar na modalidade de trabalho escrito em grupo. Parabéns!!

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"Línguas de Perguntador" de 26 de Novembro

Diz-se que “Não há sábado sem sol, domingo sem missa, nem segunda sem preguiça”, mas, cá entre nós, também não há quarta-feira sem “Línguas de Perguntador”. Por isso, estamos de volta hoje para falarmos um pouco sobre algumas expressões que usamos como falantes da Língua Portuguesa, o símbolo maior da nossa identidade nacional. No passado dia 24 comemorou-se o Dia Mundial da Ciência. Num mundo globalizado como o nosso, é impossível não falar de ciência. Todavia, de que falamos quando nos referimos à ciência? A palavra "ciência", do vocábulo latino "scientia" que significa "conhecimento", denomina hoje um conjunto organizado de conhecimentos baseados em relações objectivas verificáveis e dotados de valor universal. A ciência tornou-se imprescindível num mundo surpreendente e que procura constantemente o desconhecido, dando razão ao grande filósofo da antiga Grécia, Sócrates, que dizia que “A vida sem ciência é uma espécie de morte”. A ignorância é o seu pior inimigo, essa que, segundo William Shakespeare, é a única " treva" que temos de combater. Porém, as suas conclusões não podem ser tidas como dogmas, como verdades absolutas e inquestionáveis; será um "erro crasso" considerar imediatamente como verdadeiro tudo aquilo que os cientista afirmam. "Erro crasso" - todos sabem o que esta expressão quer dizer, mas saberão a origem? Deixamo-la aqui: na Roma antiga o poder dos generais era dividido por três pessoas (Triunvirato), o primeiro dos quais foi constituído por Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos e, confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar, escolhendo um caminho estreito e de pouca visibilidade. Os Partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém, mesmo tendo as condições para acertar, erra por cometer um erro estúpido, dizemos tratar-se de um "erro crasso". Continuem a enviar as vossas questões para o nosso e-mail: lperguntador@gmail.com
Para a semana, não se esqueçam, continua o “Línguas de Perguntador” com mais novidades e com novos elementos do CLP. Até lá, fiquem bem! CLP: Marta Monteiro (12ºE) e Diana Monteiro (12ºF)

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"Clandestino" - Deolinda

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Clandestino" dos Deolinda (enviado por Ana Isabel, 12ºF)

Clandestino
Deolinda
Composição: Pedro da Silva Martins
a noite vinha fria
negras sombras a rondavam
era meia-noite
e o meu amor tardava
a nossa casa,
a nossa vida foi de novo revirada
à meia-noite
o meu amor não estava
ai, eu não sei aonde ele está
se à nossa casa voltará
foi esse o nosso compromisso
e acaso nos tocar o azar
o combinado é não esperar
que o nosso amor é clandestino
com o bebé, escondida,
quis lá eu saber, esperei
era meia-noite
e o meu amor tardava
e arranhada pelas silvas
sei lá eu o que desejei:
não voltar nunca...
amantes, outra casa...
e quando ele por fim chegou
trazia flores que apanhou
e um brinquedo pró menino
e quando a guarda apontou
fui eu quem o abraçou
o nosso amor é clandestino

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Hoje, porque sim.

"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo" (Sophia)

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

"Línguas de Perguntador" de 19 de Novembro

Mais uma semana em que o Clube da Língua Portuguesa (http://www.clp-esb.blogspot.com/) da Escola Secundária de Barcelinhos está aqui, caros leitores, para esclarecer algumas curiosidades sobre expressões sobre as quais nunca paramos para pensar. Sim, aquelas expressões cujo significado todos nós pensamos que sabemos, mas, bem vistas as coisas, desconhecemos pelos menos o contexto de onde provêm. Vamos começar pelo conhecido “Sem eira nem beira”. Esta expressão surgiu há muitos anos atrás e era usada, como ainda hoje, para referir pessoas pobres, sem posses. A eira é um terreno em terra batida (ou em cimento) onde os grãos dos cereais ficavam a secar e a beira é a beirada da eira. Antigamente, aos lavradores que não tinham beira, o vento vinha e levava os grãos, ficando os produtores sem nada. Diz-se que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira (como era chamada a parte mais alta do telhado). As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado triplo, então construíam somente a tribeira ficando assim "sem eira nem beira", ou seja, ficando à mercê das intempéries climáticas. Daí a expressão ainda hoje ser usada para caracterizar as pessoas sem recursos económicos. Outra expressão também bem conhecida é “Santinha do pau oco", usada para qualificar as pessoas aparentemente amigáveis mas que não o são verdadeiramente. Esta expressão remonta aos séculos XVIII e XIX, épocas em que os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas usavam figuras de santas ocas que eram recheadas destas preciosidades para assim serem transportados do Brasil para Portugal. Na verdade, o significado de algumas expressões perde-se no tempo, tal como as superstições que vão passando de geração em geração. Lembre-se, por exemplo, da vassoura colocada com o cabo para baixo atrás da porta para “afugentar” visitas indesejáveis. Esperamos que não precise de usar este estratagema e que deixe este jornal entrar em sua casa por ser uma agradável visita. E se, eventualmente, encontrar em sua casa uma lagartixa, uma aranha ou até mesmo um grilo, não os expulse, porque há quem acredite que estes animais representam boa sorte para o lar. É melhor prevenir, mesmo se alguém achar estranho aquela pequena teia no tecto, aquela que não sabíamos que lá estava. Se funcionar (o que parece não ser muito comum), vai ver que ainda vai ser moda ter teias de aranha no tecto. Sem mais superstições ou expressões despedimo-nos. Até para a semana! lperguntador@gmail.com CLP – Marta Miranda e Marta Coelho 12ºE

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"Línguas de Perguntador" de 12 de Novembro

Caro leitor, nova semana, novas Línguas de Perguntador. É com enorme prazer que damos continuação a esta rubrica do nosso Clube da Língua Portuguesa (CLP) da Escola Secundária de Barcelinhos, rubrica que é também uma forma de nós próprias descobrirmos o significado de curiosas expressões que nos acompanham no dia-a-dia. Já alguma vez esteve duas ou três horas em fila indiana à espera de ser atendido? Certamente que sim. E por que será que essa fila era indiana e não chinesa ou até portuguesa? Há uma explicação para tal facto. Uma fila indiana corresponde a uma série de pessoas ou coisas dispostas uma após outra. A origem desta expressão provém da forma de caminhar dos índios da América que, deste modo, tapavam as pegadas dos que iam na frente. Curiosa a explicação, não acha? Enquanto esteve à espera na tal fila indiana, por acaso não meteu a colher em nenhuma conversa particular, pois não? Saiba que não devia, pois meter a colher significa meter-se em assuntos ou conversas alheias. Na origem desta expressão estará a cozinha, local onde alguém, responsável pela feitura de um prato, não terá querido opiniões alheias ou interferência de outras pessoas no prato que elaborava. Com uma ou outra leve diferença, usa-se também «meter o bedelho», «meter o bico», «meter-se onde não é chamado», «meter a foice em seara alheia», «meter o nariz onde não se é chamado», «meter-se na vida alheia», e muitas mais expressões populares. Não volte portanto a meter a colher em circunstância alguma, senão pode ficar com as “orelhas quentes”, porquanto as pessoas certamente não ficarão com boa impressão de si e tecer-lhe-ão comentários menos agradáveis. Quentes também são as castanhas, fruto típico da estação do ano em que nos encontramos, em que o frio aperta e sabe bem ficar junto à lareira a aquecer o corpo e a alma. Mas cuide-se, não deixe as coisas “ficarem no tinteiro”, não as deixe por realizar, não se acomode, viva as coisas boas da vida. E como não pode deixar nada por realizar, esperamos que tenha aproveitado bem o Dia de S. Martinho e tenha concretizado o ditado: “Em dia de S.Martinho há lume, castanhas e vinho”. Até para a semana, em que novas Línguas de Perguntador estarão aqui com mais novidades e não se esqueçam de enviar sugestões, curiosidades ou perguntas para lperguntador@gmail.com CLP – Adriana, Lúcia e Sofia (12ºE)

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Família monoparental. Hoje, porque sim.

(Honey)

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"O Som das Palavras" nº2

Ouve o programa "O Som das Palavras"  11/11/2008 neste endereço: 
http://www.megaupload.com/pt/?d=ADBJQJ6Z 
Para ouvires tens de fazer download para o teu computador. 

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Línguas de Perguntador" de 5 de Novembro

Enganem-se aqueles que pensam que otorrinolaringologista é a palavra mais longa do léxico português, pois esta, nem de perto nem de longe, se assemelha em tamanho à maior de todas elas. Vinte e duas letras são poucas comparadas com as quarenta e seis da palavra recorde do nosso léxico. O primeiro lugar do pódio vai para pneumoultramicroscossilicovulcanoconiótico! (Até cansa a escrever...). Esta palavra, com as suas “breves” quarenta e seis letras, é apenas a mais longa da língua portuguesa e define uma pessoa acometida por uma doença pulmonar causada pela aspiração de cinzas vulcânicas. Em tamanho idêntico, arrecadando o segundo lugar, está pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconios, que existia antes daquela, com origem no inglês; foi criada por M.Smith (presidente da "National Puzz lers´ League") que tinha como objectivo criar a maior palavra da língua inglesa. A sua constituição é idêntica à anterior pelo que tem apenas menos uma letra e significa a descrição de uma condição conhecida por silicose. No terceiro lugar desse pódio está hipopotomonstrosesquipedaliofobia com trinta e três letras. Esta construção silábica, de extensão considerável no seio das anteriormente referidas, insere uma certa ironia por ser longa e estranha mas significando uma doença psicológica caracterizada pela fobia irracional da pronúncia de palavras longas, complicadas ou raramente utilizadas no vocabulário comum. Existem ainda outras palavras de extensão considerável, embora não tanto. Estão neste caso, por exemplo, anticonstitucionalissimamente (com vinte e nove letras), oftalmotorrinoloninfologista (com vinte e oito letras) ou inconstitucionalissimamente (com vinte e sete letras). Bem, e depois de tão longas palavras que dão, certamente, muito trabalho a ler, ou melhor, a soletrar, terminamos com umas breves palavras: para a semana há mais! CLP: Filipa Figueiredo e Susana Fernandes, 12º E

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

"Existência inexistente" - texto de Ana Cláudia (12ºF)

(Foto de Paulo A.)

Um final de tarde, com impressões de um dia solarengo, aliás, de um dia vigiado por um sol escaldante. Sentado na esplanada de um café nas ruas do Porto. Vendo pessoas passando. Conservadoras, espampanantes, fechadas ou vistosas. Observa um pouco de tudo. Saboreando a cigarrilha. Já não se fazem destas, pensa. Dificilmente consegue abstrair-se do ruído da rua e do que vem do interior do café. Finalmente consegue isolar os sons.
Detecta um pássaro. Um chilreio. Não se lembra de qual animal corresponde. De repente levanta-se e deixando o dinheiro na mesa, aspira o ar. Nada de ser um sorvo puro e calmante de ar, e sim vem-lhe aos pulmões, chegando-lhe ao cérebro, a poluição descarada e insistente daquelas ruas. Como anseia por ar puro. Ar livre, sem estar engalfinhado naqueles automóveis ou monstros de seis rodas que por ali passam. Ou até mesmo pelos arranha-céus que não o deixam expandir-se para chegar a outros cantos do mundo. Só por isto ele ansiava. Seria muito? Sentia as pedras cinzentas e disformes da calçada debaixo dos pés. Baixou-as e tocou-as. Estavam quentes. Outono quente que se estava a revelar aquele. Ergueu-se. Deu um passo. Alguma coisa estava errada, achou. Deu outro. Agora teve a certeza que alguma coisa de mal se passava. Ouviu o ruído. Virou-se e viu a luz. Depôs as mãos cruzadas na frente quente da cara como se se pudesse defender de tal destino. Num último assomo de coragem desnecessária, esticou um braço para a frente e outro colocou-o por cima do coração. Sentiu o seu pulsar descontroladamente. Seguidamente não o sentiu parar. Não sentiu mais. Morreu. Acabou ali a sua existência patética da qual ninguém, amanhã, se lembraria.

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Máscaras. Texto e fotografia enviados por Ana Isabel (12ºF)

(Fotografia de Jill Coleman)
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andersen

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

O sono dos inocentes ou a fragilidade da paz

Foto@Lusa/EPA/Stephen Morrison
"Um bebé congolês dorme no abrigo Don Bosco. O abrigo, em Goma, na RD do Congo, já recebeu cerca de 800 pessoas desde que a guerra recomeçou, na semana passada. As Nações Unidas e organizações internacionais tentam levar ajuda a mais de 250.000 pessoas que se pensa terem deixado as suas casas e aldeias."

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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Há dias em que nos sentimos assim. Hoje é um desses dias.

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Línguas de Perguntador (In "Voz do Minho" de 29/10/2008)

Dia 29 de Outubro, caros leitores, é o Dia Nacional do Livro no Brasil. Mas, em Portugal, é o dia em que as Línguas de Perguntador chegam, mais uma vez, para partilhar convosco algumas “bisbilhotices” que são fruto da nossa imensa curiosidade. Sim, porque “juramos de pés juntos” que durante toda a semana andámos a “queimar pestanas” a fim de encontrar um significado para as expressões que sempre utilizámos mas que “não percebíamos patavina” do seu significado. E agora deve estar a perguntar-se: mas que rebeldia escrever num jornal expressões como “jurar de pés juntos”, “queimar pestanas” ou “não perceber patavina”. Nós passamos então a explicar, “ok”? Comecemos, então, pelo tão vulgar “ok”. Desengane-se quem pense que é um termo actual, utilizado pelos jovens. Está expressão inglesa “ok” (okay), que é mundialmente conhecida para designar “tudo bem”, teve origem na Guerra Civil Americana (também conhecida em português como Guerra de Secessão) que decorreu nos Estados Unidos da América entre 1861 e 1865. Durante a guerra, quando os soldados voltavam para as bases sem nenhuma morte no exército, escreviam numa placa “0 Killed” (nenhum morto), expressando a sua grande satisfação, daí surgiu o termo “ok”. A expressão “jurar de pés juntos” surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado para dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado para expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz. E nós só queremos realmente dizer-lhe a verdade! “Queimar pestanas” é utilizada ainda nos dias de hoje, apesar de o facto real que originou esta expressão já não ser usual. Foi, inicialmente, uma frase ligada aos estudantes e designava aqueles que estudavam muito. Antes do aparecimento da electricidade, recorria-se a uma lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler. Por isso, por vezes, queimavam as pestanas. Por fim, “não perceber patavina” deriva da chegada dos frades italianos patavinos, originários de Pádua ou Padova, a Portugal. Os portugueses, como não os conseguiam entender, utilizavam esta expressão para designar o facto de “não perceber nada”. Com todas as dúvidas esclarecidas, nos despedimos. Mas, para a semana, regressam as Línguas de Perguntador com mais novidades. Continuem a enviar as vossas dúvidas para o nosso e-mail lperguntador@gmail.com. Até para a semana! E não se esqueçam: “Há uma língua que nos une”. (CLP- Marta Carvalho e Luciana Araújo, 12ºF)

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Odes, livro de Ana Salomé: lançamento no dia 15 de Novembro

Ode preclara
entre o primeiro dos poemas e os seguintes
há uma luz caminhante
que vem lá de onde o mar é feito de águas nascentes
e onde o olhar é sempre o primeiro sobre as coisas
num rodopio íntimo.
entras no primeiro dos poemas
com uma passarola que navega na rebentação
e é solene o momento em que me deito na praia
descalçando as sandálias.
abro um livro de poemas antigos para tu os dizeres
todos feitos de vinho e de sal.
no primeiro dos poemas o sol é aberto
e o céu desdobra-se em esforços para encontrar
aquele azul que vive no recôndito destino das chaves
ou até no susto do peixe no bico da gaivota.
o sol indicia a tua passagem por todos os grãos de areia
as minhas axilas chegam mesmo a brilhar.
há um descanso profundo em toda a natureza
das rochas das conchas dos búzios
por lhes bastar terem o lugar certo para existirem
e saberem que são a sua respiração.
depois de entrares no primeiro dos poemas
e de caminhares até à minha sombra espúmea
é difícil distinguir o sabor da felicidade daquele mar
é fácil deixar-me sentada na toalha de xadrez
a fumar um cigarro com a tua mão.
as tuas mãos que se estreitam nos dedos
os dedos que se estreitam para entrarem
nas coisas delicadas e sombrias das coisas
por exemplo na maçã pelo caroço pela árvore
pela fonte que uma árvore pode ser
quando plantada no naufrágio do mar
todo de vinho e sal corpóreos
como o horizonte vertical
no nosso único coração.
(Ana Salomé)

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

"O Som das Palavras" - O programa do CLP na rádio Barcelos

Hoje, entre as 18 e as 19 horas, o CLP esteve na rádio Barcelos: eu, a Marta, a Mónica e o Bruno (12ºF) estivemos no ar em directo na primeira emissão de "O Som das Palavras". Voltaremos daqui a quinze dias! Gostávamos de saber a vossa opinião sobre o Programa - enviem os vossos comentários, críticas e/ou sugestões para o nosso blogue.

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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ana Salomé - segundo livro de poesia

«nessa mão onde cabia perfeito o meu coração Esqueceste-me. Trouxeste um dia o teu coração que batia com todos os dardejos das gaivotas do rio lá ao fundo e puseste-o a funcionar dentro do meu. Era uma coisa linda de se ver. Eu espantei-me com o sangue que se misturou tão bem, com a loucura do céu inclinada num voo em pique na nossa direcção, com a chuva presa a um quadro na parede a chorar muito baixo, muito tímida como as minhas mãos que empurravam os cacilheiros do destino sobre o rio da tua fala. Trouxeste as áleas e a lama revolvida de vida. Fomos espíritos da floresta a correr pela seiva das folhas perenes. Dei-te o sorriso com a ferocidade do sol e todas as formas do corpo na sinuosidade dos lábios a ladrilhar a proximidade do dia e da noite. Cresceu a erva nos contornos da nossa matéria de esperança. Um vento de abelhas lançou um pólen de prata sobre a fulguração do escuro nos nossos olhos. Bateu fortemente o teu coração dentro do meu. Depois esqueceste-me.» http://www.cicio.blogspot.com/ (foto de Fabianna Pazzini)

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sábado, 25 de outubro de 2008

José Cardoso Pires

José Cardoso Pires morreu há dez anos (1925 - 26/ Out. de 1998)
Nasceu em São João do Peso, Vila de Rei, mas passou grande parte da sua infância e adolescência em Lisboa, onde frequentou o Liceu Camões e foi aluno de Rómulo de Carvalho. Mais tarde ingressou no curso de Matemáticas Superiores na Faculdade de Ciências de Lisboa, que não chegou a concluir. A sua experiência da vida boémia, da rua e da noite, resultou num conhecimento que transpõe para alguns dos seus textos (Alexandra Alpha). Realizou esporadicamente trabalhos como jornalista e redactor de publicidade até se dedicar definitivamente à escrita. Foi colaborador de várias publicações entre as quais a revista "Almanaque", "Diário de Lisboa", "Gazeta Musical e de Todas as Artes" e revista "Afinidades".
Livros Os Caminheiros e Outros Contos (Contos), 1949; Histórias de Amor (Contos), 1952; O Anjo Ancorado (Novela), 1958 ; Cartilha do Marialva (Ensaio), 1960 ; O Render dos Heróis (Teatro), 1960 ; Jogos de Azar (Contos), 1963 ; 1993 ; O Hóspede de Job (Romance), 1963; O Delfim(Romance), 1968; Dinossauro Excelentíssimo (Sátira), 1972; E agora, José ? (Ensaio), 1977 ; O Burro em Pé (Contos), 1979 ; Corpo-Delito na Sala de Espelhos, 1980; Balada da Praia dos Cães(Romance), 1982; Alexandra Alpha (Romance), 1987 ; A República dos Corvos (Contos), 1988 ; Cardoso Pires por Cardoso Pires (Crónicas), 1991 ; A Cavalo no Diabo (Crónicas), 1994 ; De Profundis, Valsa Lenta, 1997 ; Lisboa, Livro de Bordo (Crónicas), 1997 ; Lavagante, editado em 2008.
Algumas das suas obras foram adaptadas ao cinema:"Balada da Praia dos Cães", realizado por José Fonseca e Costa (1987) e que foi um dos filmes portugueses mais vistos de sempre; "O Delfim", realizado por Fernando Lopes (2001).
Cardoso Pires ganhou vários prémios, entre os quais se desta o Prémio Camões, em 1997.

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Há coisas do "arco da velha!" Mas a letra dos Deolinda é bem actual...Enviado pelo Bruno Micael

Existe uma petição na internet para alterar o hino nacional! Segundo o sitio da internet da revista Blitz, a petição pretende que o hino nacional português seja alterado, nada mais, nada menos para... "Movimento Perpétuo Associativo" dos Deolinda. (ouve a música aqui: http://www.youtube.com/watch?v=us9dIcLjfKM)
Não, não estou a brincar...Os subscritores já passam dos 1900 e se se conseguirem 5000 assinaturas válidas, o Parlamento poderá discutir o assunto na Assembleia da República! O Hino Nacional é, desde 1910, "A Portuguesa", com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil... Reproduzo aqui a justificação do autor da petição...Porque o tempo dos "heróis do mar" já lá vai há muito...Porque não somos actualmente nem "nobre povo", nem "nação valente"... Porque, como tal, não faz sentido mantermos um hino que reflecte um nacionalismo tacanho e bélico (Às armas, às armas, pela pátria lutar, contra os canhões marchar marchar" (???)) e que está completamente desactualizado e desfocado da realidade do país... Porque nesta nação reina o conformismo, a apatia e o desinteresse generalizado por aquilo que nos rodeia... Porque é preciso um "murro no estômago" para acordarmos do estado de latência a que chegámos... Porque qualquer nação que queira evoluir tem de ter uma noção clara e consciente dos seus males e dos seus vícios mais negativos; Porque não é possível continuarmos a assobiar para o lado, a fingir que está tudo bem, a acenar a bandeirinha e o cravo nas horas certas, enquanto no dia-a-dia nada fazemos para que as coisas melhorem... Porque qualquer demonstração de idealismo e convicção forte é considerado, desde logo, uma utopia, um defeito, um fracasso... Porque, em consequência disso, quem melhor se safa são cada vez mais os mediocres, os oportunistas, os "lambe-botas"... Porque se exige uma reflexão séria sobre o futuro do país... Porque é urgente que ocorra uma mudança de mentalidades no nosso país, capaz de gerar um maior dinamismo, um maior espírito crítico, uma maior irreverência... Porque precisamos de um hino que esteja realmente de acordo com a actualidade nacional, que melhor retrate o país...
Por tudo isto, os subscritores desta petição vêm, por este meio, propor o tema "Movimento Perpétuo Associativo" dos Deolinda como novo hino nacional. Para quem quer assinar esta petição poderá assiná-la no sítio http://www.peticao.com.pt/hino-deolinda
Para quem ainda não conhece os Deolinda, pode ir a www.deolinda.com.pt

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Dia Internacional da Biblioteca Escolar

O CLP colaborará com a BE no próximo dia 27, dia internacional da Biblioteca Escolar.

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sem título

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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Línguas de Perguntador (In "Voz do Minho" de 22/10/2008)

Caros leitores, mais uma semana em que as Línguas de Perguntador vão ao vosso encontro e não de encontro a vós. As duas expressões “ao encontro de” e “de encontro a” são muitas vezes mal empregues. A primeira traduz uma ideia de favorecimento, algo agradável ou bem-vindo; pelo contrário, “de encontro a” dá ideia de oposição e contrariedade. Estas duas expressões são semelhantes na forma, mas opostas na ideia que exprimem. É por isso muito importante saber a diferença entre elas para que cada um de nós consiga interpretar correctamente um texto e utilizá-las de forma adequada no dia-a-dia, para não sermos o “bode expiatório” de ninguém. “Bode expiatório”? Ora, aqui está outra expressão usualmente utilizada e que tem no sentido figurado um significado totalmente diferente do literal. O bode expiatório era um animal que era apartado do restante rebanho e deixado só na natureza selvagem, como parte das cerimónias hebraicas na época do Templo de Jerusalém. Assim, em sentido figurado, um "bode expiatório" é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar a culpa de uma adversidade ou qualquer acontecimento negativo. A busca do bode expiatório é um acto irracional de determinar que uma pessoa ou um grupo de pessoas, ou até mesmo algo, seja responsável por um ou mais problemas. Por falar em caprinos, alguma vez lhes perguntaram “Está a pensar na morte da bezerra?”. Certamente muitas. E já pensaram no que realmente lhes pretendiam dizer? Historicamente, este ditado popular provém da Bíblia. O bezerro era um animal adorado pelos hebreus e sacrificado para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, o seu filho mais novo, que tinha grande carinho pelo animal, opôs-se, mas em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o rapaz passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte da bezerra”. Consta que meses depois o rapaz veio a falecer. E assim, esta foi mais uma semana em que as Línguas de Perguntador deram a conhecer aos leitores o sentido de algumas expressões e ditados populares. Pretende-se assim transmitir às pessoas o bom uso da Língua Portuguesa. Para a semana, continuam as Línguas de Perguntador com outros colegas do CLP e com mais novidades. Continuem a enviar as vossas dúvidas para o nosso e-mail lperguntador@gmail.com. Até para a semana! (CLP – Marta Monteiro e Sofia Carvalho, 12ºE)

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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Reunião geral do Clube da Língua Portuguesa

Amanhã, dia 22, pelas 14:00, no Auditório da Escola, o CLP vai realizar uma reunião geral. Contamos com a presença de todos!

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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Línguas de Perguntar In "Voz do Minho" (15.10.2008)

O Línguas de Perguntador é “bisbilhoteiro”? Não! Só gostamos de perguntar e de procurar as respostas. Na verdade, o que fazemos pela Escola Secundária/3 de Barcelinhos não é “só para inglês ver”! Cá pelo Clube da Língua Portuguesa intrigava-nos que não nos dessem muita atenção, que não nos quisessem ouvir…Caso para dizer: “Falamos nós ou chia o carro?”. Afinal de contas, “trabalhamos como galegos” para realizarmos as actividades e para escrevermos estas crónicas em que procuramos espevitar a curiosidade das pessoas e dar a conhecer os significados das expressões que tradicionalmente são usadas pelos portugueses e, claro, pelos leitores barcelenses, já que é para eles que escrevemos, e que podem (e devem) escrever para o "Línguas de Perguntador" para colocar as dúvidas e as curiosidades que têm sobre a língua portuguesa – nós prometemos responder. Hoje falaremos das expressões “Só para inglês ver”, “Falamos nós ou chia o carro?” e “Trabalhar como galegos”. Que significam e de onde terão surgido? Bem, nós temos algumas respostas. A expressão “para inglês ver” significa que é algo sem validade real, apenas para efeitos de imagem ou aparência. Esta expressão surgiu em 1831 quando o Brasil, pressionado pela Inglaterra, promulga uma lei que proíbe o tráfico negreiro declarando livres os escravos que lá chegassem e punindo severamente os importadores. Face a esta situação, comentava-se na Câmara dos Deputados, nas casas e nas ruas, que o Ministro da época fizera uma "lei para inglês ver", ou seja, para não ser efectivamente cumprida. Já a pergunta-ameaça “falamos nós ou chia o carro?” é uma expressão que prevalece em muitas freguesias barcelenses nos dias de hoje, e que procura expressar o desagrado pelo facto de a pessoa a quem nos dirigimos não prestar a devida atenção ao que dizemos. Qual seria originalmente o contexto de uso deste dito? Não conseguimos (ainda) encontrar a resposta. Por fim, o uso da expressão “trabalhamos como galegos” tem origem na época em que o povo da nossa vizinha Galiza vinha trabalhar para Portugal, a fim de superar as dificuldades económicas, e arranjava apenas trabalhos duros. Hoje o movimento migratório continua, mas em sentido inverso, pois agora parece que afinal de Espanha não vem só mau tempo e mau casamento! Bem, para a semana o Clube da Língua Portuguesa voltará com a crónica “Línguas de Perguntador” e com mais boa “bisbilhotice” acerca da nossa Língua. (CLP: Ana Isabel Lopes e Anabela Cardoso (12ºF)) lperguntador@gmail.com

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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ontem recebi uma prenda

Ontem recebi uma prenda, muito mais do que um presente de aniversário, ofereceram-me uma prenda carregadinha de afectos: obrigada a todos (vocês sabem quem...).
(Autora da foto:Ornella Erminio)
«Ao pentear-se, com o sol a entrar pela janela, perguntava a si própria se era a mesma de ontem, como se houvesse alguma lógica na relação entre a luz e o pensamento que nascia do seu gesto. Mas o que a manhã trazia era um sentimento que interrompia o passar dos minutos, e a levava a descobrir que a vida pode ser um parêntesis entre uma hora e outra. E quando se olhava ao espelho, o tempo voltava a passar no mostrador do relógio, com o ponteiro a correr no sentido inverso, trazendo-a de volta a um hoje em que amanhã é o mesmo dia de ontem.»
(Nuno Júdice)

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

"Pudesse eu" (Sophia)

Autor da foto: pinguboy
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!

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terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Expiação" - texto de Ana Cláudia Durães (12ºF)

(Foto de Maria José Amorim)
Com a cerimónia adequada ela pegou no lápis. Começou a escrever. O lápis oscilando freneticamente para desenhar as palavras, a mão contorcendo-se para reter o lápis nos dedos. O lápis ainda se continha. Agora as palavras…Ai as palavras…! Se pudessem saiam a voar da folha. E isso seria trágico. A rapariga desenhava letras, letras que formavam palavras. Palavras com significados cruéis, maldosos e que incitavam a violência. Mas as palavras eram selvagens e lutavam para se soltarem do papel e, uma vez fora dele, não tornavam a voltar e eram extremamente perigosas. Uma palavra é um elemento poderosíssimo que quando a soltamos nunca mais é só nossa e perdura por ciclos de gerações. Nós morremos. Elas permanecem. Então ela escrevia, com fulgor, com um ímpeto furioso. Tanto ódio impregnado que se reproduzia dentro dela. Com rapidez a desconfiança e o desespero atingiram-lhe o cérebro e quando lhe tocaram o coração transformaram-se em ódio puro. Corroeu-se assim um coração neutro, normal, indiferente, que poderia ter sido usado para o bem… Ela escrevia. O papel começou a ficar manchado, as letras difusas, pois gotas atiravam-se dos seus olhos para a folha. Não lágrimas de tristeza obviamente. Mas de raiva e de frustração. Já a mão lhe tremia e mesmo antes do suspiro final parou. Simplesmente parou. Olhou em frente. Uma tela aparecia defronte dos seus olhos. E lentamente a circundou. Era branca. Não. Era pálida. De uma palidez desconcertante. E só então viu. Pessoas. Não. Corpos. Acorrentados, sem vida, dilacerados e ainda com a expressão de medo no rosto, de terror, de dor. Apelos de ajuda mortos nas suas bocas ligeiramente abertas, algumas descaídas, outras até sem queixo e lábio inferior. Mortos, pois aos corpos faltava-lhe o fulgor, o sopro, o suspiro, o ar. Esse mesmo fulgor, sopro, suspiro e ar próprio dos vivos. E então, sentiu-se acorrentada. Correntes esmagavam-lhe os pulsos. Nada se ouvia. Até o som dos próprios movimentos era inexistente. Não gritou. Não lutou. Aceitou. Morria conformada com o fado para si escolhido. Só uma coisa ainda vivia. O ímpeto da escrita. Não furioso, não raivoso. Ondeante, delicado e suave. Teve a sua redenção. O seu momento de expiação. Conseguiu purgar o seu coração. E então ali ficou. Não torturada, não dilacerada, não desmembrada. Branca.

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sábado, 11 de outubro de 2008

Torga tão actual

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena
Não podemos mudar a hora de chegada,
Bem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida. E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste. TORGA, Miguel (1995), Câmara Ardente – 3ª edição. Coimbra: Coimbra.

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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Línguas de Perguntador"

Saiu hoje o primeiro artigo do CLP no semanário regional "A Voz do Minho" numa rubrica que intitulámos "Línguas de Perguntador" (ideia da Ana Isabel do 12ºF). Deixamos aqui expresso o nosso agradecimento ao Director do jornal, Dr. David Macedo, por esta oportunidade.
Aqui fica o artigo: O Clube da Língua Portuguesa (CLP) é constituído por alunos da Escola Secundária/3 de Barcelinhos que lá frequentam diferentes níveis de escolaridade. Foi criado no ano lectivo de 2006/07 por uma docente da Escola, Aida Sampaio Lemos, que tem vindo a organizar e coordenar as actividades que o CLP tem vindo a desenvolver com vista a chamar a atenção para a importância do conhecimento e do domínio da língua materna. Mais informações sobre o CLP e sobre as actividades já desenvolvida podem ser encontradas em http://www.clp-esb.blogspot.com/ e http://www.clubelingua.pt.vu/. "Aquele que pergunta e o que gosta de perguntar" é um perguntador. Nós gostamos de perguntar e de procurar as respostas. Por isso, nas "Línguas de Perguntador", tentaremos encontrar e dar respostas às muitas perguntas, de todos e para todos, que existem sobre a língua portuguesa. História das palavras, explicações para alguns dos erros que grassam por aí, curiosidades sobre a língua portuguesa, palavras cujos significados foram mudando ao longo dos tempos... traremos aqui coisas "do tempo da Maria Cachucha", mas não queremos fazer nada que fique "pior a emenda que o soneto". Já agora, sabe de onde provêm estas expressões idiomáticas de uso tão banal? A expressão "Do tempo da Maria Cachucha" é usada para referir algo antigo e a sua origem está ligada a uma dança espanhola na qual, ao som de castanholas, o dançarino começava a dançar num movimento moderado, acelerando cada vez mais, até terminar num aceso voltejo. Esta dança esteve também na moda em França, sobretudo por causa de uma dançarina famosa, Fanny Elssler, que a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, houve uma cantiga muito popular intitulada Maria Cachucha, ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem, sendo uma adaptação da Cachucha espanhola, com uma letra bastante galhofeira. Assim, quando hoje dizemos "Isso é do tempo da Maria Cachucha" queremos exprimir o facto de ser algo do passado, antiquado ou antigo. A expressão "Pior a emenda que o soneto" utiliza-se para dizer que o conserto de algo ficou/ficará pior do que o original. O soneto é uma composição poética composta por duas quadras e dois tercetos e conta-se que um pretendente a poeta pediu a Manuel Maria Barbosa du Bocage (poeta português que viveu entre 1765 e 1805) uma avaliação de um soneto que tinha composto, dizendo-lhe que podia marcar com uma cruz os erros que encontrasse. Bocage leu o soneto e não pôs nenhuma cruz, dizendo ao aspirante a poeta que, se fosse a marcar com uma cruz os erros, seriam tantas as cruzes que a emenda ficaria ainda pior do que o soneto. Voltamos para a semana com mais respostas para as "Línguas de Perguntador". lperguntador@gmail.com CLP

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domingo, 5 de outubro de 2008

Dia Internacional do Professor

"Se não for professor, pense durante alguns minutos por que não escolheu esta profissão."
Se é professor, pense durante alguns minutos por que escolheu esta profissão. Lembre-se do que o motivou e não abdique disso. Mesmo em tempos como os que agora correm. Sobretudo em tempos como os que agora correm. Cartaz afixado na nossa Escola

Com o intuito de revalorizar o papel do Professor na Sociedade Moderna, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, criou, desde 1994, o Dia Internacional do Professor, comemorado a 5 de Outubro em mais de cem países.

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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dinis Machado (Lisboa, 21 de Março de 1930 - Lisboa, 3 de Outubro de 2008)

O escritor Dinis Machado morreu hoje em Lisboa, aos 78 anos. Nascido a 21 de Março de 1930, em Lisboa, Dinis Machado foi jornalista desportivo, crítico de cinema e dedicou-se também à banda desenhada. O seu maior êxito como escritor foi o romance O Que Diz Molero, editado em 1977 e reeditado em 2007, no dia do seu 77.º aniversário, e já adaptado ao teatro. Sob o pseudónimo Dennis McShade, escreveu alguns policiais, que estão agora a ser reeditados pela Assírio & Alvim. Também é autor de Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel Garcia Marquez (1984) e de Reduto quase final (1989).

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Dia do sócio

Agradecemos à empresa Josar o apoio dado para a realização desta actividade.

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Dia do sócio - Fotos

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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dia do sócio: Inscreve-te no CLP!

Inscreve-te no CLP: hoje na sala de alunos (polivalente) da Escola poderás encontrar informações sobre o clube, as actividades já realizadas e outras já planeadas para este ano lectivo.
Poderás inscrever-te no local ou em: www.clubelingua.pt.vu
Entra tu também no clube da língua que nos une e participa!

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sábado, 27 de setembro de 2008

Paul Newman (1925-2008)

Não era português nem consta que soubesse falar a nossa língua. Mas o CLP não pode deixar de lamentar o desaparecimento de um grande actor.
Aqui retratado em "Gata em telhado de zinco quente" (" Cat on hot thin roof", com Elizabeth Taylor), filme baseado na peça homónima de Tennessee Williams.

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Há olhares que nos marcam - Quem escreve um texto para esta foto?

[Finbarr O'reilly-Reuters]

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terça-feira, 23 de setembro de 2008

ONU: Voz à língua portuguesa

Este foi o primeiro dia em que a língua portuguesa foi utilizada nas intervenções de abertura e debate da Assembleia Geral das Nações Unidas. Portugal assegurou a tradução simultânea para as seis línguas oficiais da organização. Finalmente!

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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"O meu irmão João" de António Lobo Antunes

Ouvi agora na rádio que António Lobo Antunes recebe as insígnias de Comendador da Ordem das Artes e das Letras francesas, numa cerimónia que se realiza ao fim da tarde na embaixada de França em Lisboa. É a segunda vez hoje que me deparo com o nome de Lobo Antunes e, confesso, não é realmente esta notícia que me leva a falar nele aqui. Li hoje uma crónica deste escritor intitulada "O meu irmão João", editada na revista "Visão" de 11 de Setembro. E, como já aconteceu, fiquei emocionada com a forma como ele, que consegue ser tão duro e ríspido no seu discurso, literário e não só, fala de forma tão genuina, tão bonita e tão comovente do afecto."É talvez a pessoa que conheço melhor no mundo e todavia quase não falamos. Para quê? São desnecessárias as palavras entre nós, passámos mais de vinte anos, acho eu, no mesmo quarto, num silencioso princípio de vasos comunicantes que até hoje se mantém. Para além do muito amor que raramente lhe manifestei tenho uma imensa admiração por ele e um orgulho sem limites. Herdou do nosso pai (herdaste do pai, sim, tem paciência) a honestidade, o carácter, a coragem e o horror à mentira. Desde criança foste sempre valente. Se assim à má fi la me ordenassem que dissesse duas características tuas respondia logo a valentia e o pudor, formas supremas da elegância. E isto desde que te conheço, tu que nasceste vinte meses depois de mim (o número vinte deu-lhe para me perseguir hoje) que era cobarde e despudorado e custou-me tanto ver-me livre dessa ganga nojenta, zangado de vergonha comigo. Foste sempre digno e discreto contigo mesmo e com os outros e bem sei, sem mo teres dito, as difi culdades e as dores que sofreste, a carne viva que escondes e eu vejo, a compaixão que não mostras e eu sinto. E a tua oculta e bondosa generosidade. O rigor também, a falta de complacência para com a ingratidão, a pulhice, os sentimentos rasteiros. Claro que tens defeitos: alguns divertem-me, outros enternecem-me, nenhum me incomoda, talvez por serem os defeitos das tuas qualidades da mesma maneira que um automóvel possui os travões adequados à potência do motor. Se fosse Deus não mudava grande coisa em ti: talvez trocasse um móvel de posição, alterasse uma jarra, substituísse um quadro. Na casa não mexia: agrada-me que seja como é. E depois claro que te foi dada uma inteligência superior e isso não vale a pena mencionar porque no meu caso não me serve de nada, ninguém é tão estúpido como um homem inteligente e muitas das asneiras que fi z conhece-las de ginjeira. Lembras-te da mãe – Tão inteligentes para umas coisas, tão estúpidos para outras mas eu canalizei tudo para a escrita, construí-me para isso e os teus interesses são mais variados que os meus. E no meio disto somos tão ingénuos ambos, sensíveis à lisonja, por vezes completamente parciais, cegos em relação aos amigos, de julgamento turvado quando os afectos se misturam nele. É curioso como, sendo diferentes, temos coisas idênticas. O pai não queria filhos, queria campeões de karaté. Conseguiu-os e o preço disso foi uma parte nossa amputada e uma sede de amor sem limites, em ti cuidadosamente escondida. A gaita é que eu sou desbocado e tu não, vivo nas nuvens e tu só às vezes, porque eu vivo nas nuvens e das nuvens e tu tens de confrontar-te com uma realidade imediata que te dá um peso específico maior que o meu e uma relação necessariamente pragmática com certos aspectos do quotidiano. Estou para aqui a escrever isto e a pensar na educação que recebemos, normativa, implacável, no limite da impiedade e da dureza. Quantas vezes nos revoltámos contra ela e, no entanto, que importante foi. Um pai que competia connosco e, mais tarde, te invejava. É terrível a relação do fi lho com o pai, julgando-se mutuamente numa ferocidade sem doçura. Nunca foi doce. Nem tolerante. Que egoísmo horrível naquele homem. E por baixo disso tudo uma vaidade em nós, ou antes uma vaidade nele dado imaginar (a imaginação não era o seu forte, nem o sentido de humor, nem a criatividade) que nos havia feito peça a peça e não fez. Não nos poupava mas poupava-se a si. Dito desta forma parece que lhe quero mal. Não quero. Só que não me acho em dívida: o preço foi alto. Levou a vida que quis, como quis, e impunha-nos à força a sua vontade. É curioso, João: dá-me pena que tenha morrido. Movia-se por paixões, entusiasmava-se e gostava de nós através das nossas filhas por lhe ser impossível amar-nos abertamente. E contudo, mau grado o que acabo de dizer, não duvido do seu amor e de um orgulho genuíno nos filhos, que fazia os possíveis por disfarçar. Estou a ser injusto, de longe em longe descuidava-se. E apesar do que afi rmo, gaita, era, é o nosso pai. Não esqueço as palavras de Herculano a propósito de Garrett que ele repetiu dúzias de ocasiões ao longo dos anos – Por meia dúzia de moedas o Garrett é capaz de todas as porcarias, menos de uma frase mal escrita ou da ordem de Filipe Segundo ao arquitecto do Escorial – Façamos qualquer coisa que o mundo diga de nós que fomos loucos e como esses dois preceitos se gravaram na gente. Isto foi importante para além do que declarei a teu respeito e herdaste dele de facto: a honestidade, o rigor e a coragem. É bom ser filho de um homem desta têmpera e essas qualidades nasceram contigo. Talvez com outro pai houvesses sido igual, não sei. Capaz de todas as porcarias menos de uma frase mal escrita: para mim foi um tiro na mouche. Em cheio. E estou-lhe grato por isso. Estou-lhe grato também pelos irmãos que foram aparecendo, a chorarem como uns danados até aos dois anos, raios os partam. À mãe igualmente claro, de quem a avó nos dizia – Vocês matam a vossa mãe numa convicção que me confundia. Via-nos a apunhalá-la com a faca do pão, a da serrilha grande, e ela a torcer-se na cozinha. Felizmente sobreviveu à faca e segue viva da costa. Agora, há uma semana, sucedeu aquilo do Pedro e de novo te admirei, mano, a tua efi ciência, a tua capacidade de decisão, o teu valor, a rapidez pragmática do teu afecto, eu que de pragmático, pobre de mim, nada tenho. Quando acabaste de operá-lo apeteceu-me beijar-te. Claro que não beijei mas sabes que beijei: és o meu irmão João. Aquele a quem me une um silencioso princípio de vasos comunicantes. E com que alegria repito isto dentro de mim: o meu irmão João. O meu irmão João para sempre". A.L.A., In

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