terça-feira, 17 de março de 2009

"Línguas de Perguntador" de 11 de Março In "A Voz do Minho"

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Mas nós, caros leitores, não nos mudámos nem mudamos as nossas preferências. Considerem-se “privilegiados” (e não “preveligiados” ou “previligiados”) por haver gente como nós que “fala pelos cotovelos” e vos presenteia todas as semanas com expressões e curiosidades sobre a nossa Língua Portuguesa e afins. Não pretendemos, contudo, importunar-vos “falando de mais”, pois se isto fosse uma conversa cara-a-cara, tornar-se-ia desconfortável estarmos sempre a tocar-lhes com o cotovelo para chamar a atenção. É esta a origem da expressão “falar pelos cotovelos”, que foi pela primeira vez usada pelo escritor latino Horácio (65-8 a. C.) numa das suas sátiras. Agora tendo em atenção a abertura deste texto, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, esta é uma frase que muita gente já deve ter ouvido, mas cuja origem pode desconhecer. Trata-se de um verso de um soneto de Luís de Camões, com um significado intemporal, daí ser usada ainda hoje em dia. Parece que já no século XVI o poeta se tinha apercebido de que, à medida que o tempo passa, também as nossas vontades, os nossos gostos, desejos e objectivos, vão mudando. Este sentimento é comum a todos nós, mas como diria Penélope Cruz, nas palavras de Woody Allen, há quem sofra de “insatisfação crónica”, ou seja, nunca está satisfeito com nada, o que geralmente acontece porque não sabe o que procura. O músico brasileiro Wilson das Neves traduziria isto dizendo que “Quem procura o que não perdeu quando encontra não conhece”. Por outras palavras, mais lusitanas, “Quem não sabe o que procura, não percebe quando encontra”. É pena, porque às vezes acabamos por “Só dar valor ao que temos, quando perdemos”. Esta é uma velha frase cuja autoria desconhecemos. Deixamos desde já a sugestão para nos contactarem se descobrirem. Mas continuando com a mudança, apesar da sua inevitabilidade, há sempre quem tente “remar contra a maré”, tentado, portanto, fazer algo muito difícil, quase impossível. Por isso não se prendam ao passado e saibam quando está na altura de mudar, pois “todo o mundo é composto de mudança”. Já ouviram falar da “filosofia dos ovos”? Não é aquela em que se interroga quem nasceu primeiro: se o ovo ou a galinha (mas se souberem a resposta, agradecíamos, em nome da humanidade, que nos contactassem também). A filosofia dos ovos teve origem numa anedota, em que um indivíduo vai ao médico e diz: "Sr. Doutor, o meu irmão está maluco, pensa que é uma galinha". O médico diz: "Então por que é que não o interna?". Ao que o indivíduo responde: "Bem, eu internava, mas preciso dos ovos". Divulgada também por Woody Allen, num filme de 1977, ele acrescenta-lhe uma pequena, mas brilhante, reflexão: Assim acontece com os relacionamentos. Mesmo que estes sejam completamente irracionais e absurdos, continuamos a sustentá-los, porque a maioria de nós precisa dos ovos. Por aqui ficamos hoje, com uma sugestão cinematográfica. Vejam o último filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona e desfrutem de um divertido momento de reflexão e, possivelmente, identificação pessoal. Para a semana estamos de volta e já sabem que estamos disponíveis em lperguntador@gmail.com. CLP – Maria Vilas Boas e Vera Pereira (12ºF)

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