quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Bicentenário do nascimento de Darwin" de Letícia Amorim*

A evolução do Homem “começou” numa viagem que durou cinco anos». Quis ser médico, depois sacerdote, mas é o encontro com o botânico John Stevens Henslow, com quem trocou conhecimentos sobre História Natural, que acabaria por determinar o percurso do mais importante naturalista e biólogo da História. Charles Robert Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, em Shewsbury, Inglaterra. Nascido numa família próspera, era fi lho de um médico e, em 1825, foi para Edimburgo estudar Medicina, mas abandonou o curso. Já em Cambridge, onde estudava para se tornar sacerdote anglicano, interessou-se pelo estudo da vida, depois de conhecer o botânico Henslow.
A viagem no “Beagle” Foi Henslow que incluiu Darwin na expedição à volta do mundo, a bordo de um navio que deixou Davenport a 27 de Dezembro de 1831, rumo à América do Sul. Não era para ser Charles Darwin a entrar no navio que ia iniciar a volta ao mundo, naquele fi nal de ano 1831, mas a primeira escolha recusou. Darwin, então um jovem de apenas 22 anos que estava, agora, mais interessado pela natureza, decidiu partir contra a vontade da família. O barco chamava-se “Beagle” e a viagem tinha como objectivo cartografar o globo. Durante quase cinco anos, e apesar da saúde frágil e dos enjoos constantes, Darwin recolheu amostras geológicas, fósseis, fez anotações sobre animais e plantas, numa rota que passou pela América do Sul, por várias ilhas do Atlântico e do Pacífico, pela Austrália e Nova Zelândia. Nas ilhas Galápagos, observou que, apesar de cada ilha ter a sua espécie de tartaruga, todas eram originárias de uma única espécie que se tinha adaptado às condições de vida nas diferentes ilhas. A mesma espécie animal tinha características próprias de uma região para outra e o mesmo acontecia em espécies que tinham milhares de anos de diferença, demonstravam os fósseis. O livro que escandalizou o mundo académico Durante anos, Darwin foi delineando a teoria da evolução das espécies, ideias consideradas revolucionárias e que eram expressas, em segredo, num restrito círculo de amigos. Mas, incentivado pelo trabalho de Russell Wallace, um zoólogo que chegara a conclusões semelhantes, Darwin acabou por publicar, em 1859, um livro “revolucionário” que fi caria conhecido como “A Origem das Espécies”, vinte anos após do fim da sua grande viagem. No entanto, o título original da obra era bem mais extenso: “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural ou a Conservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida”. Entre o coro de reacções escandalizadas com a obra, estavam as dos próprios professores da faculdade que tinham proposto o seu nome para a viagem no “Beagle”. A teoria propunha que o meio ambiente pode determinar as características de uma espécie e a sua sobrevivência ou extinção. Darwin defendia que os seres vivos com características mais efi cientes para se adaptarem ao meio ambiente têm mais descendência e que os outros podem morrer antes de se reproduzirem, acabando extintos. E que todos provinham de um ramo comum. Não havia separação entre homens e animais. A teoria dava azo, mais tarde, à ideia de que o homem e o macaco tinham um antepassado comum. Se as teorias de Darwin foram polémicas na altura e marcaram as ciências naturais, hoje em dia, duzentos anos depois do seu nascimento, não deixam de alimentar calorosas discussões. A teoria evolucionista de Darwin serviu, contudo, de base das ciências biológicas contemporâneas. Charles Darwin morreu a 19 de Abril de 1882, em Downe, no condado de Kent.
Pode conhecer mais sobre a vida e legado de Darwin numa infografia disponível na página da Renascença na Internet, em www.rr.pt. )[...] “A evolução de Darwin” na Gulbenkian É inaugurada hoje, mas está a ser preparada há dois anos e reúne peças que estavam espalhadas por vários museus portugueses e outras feitas de encomenda. A exposição “A evolução de Darwin”, na Fundação Gulbenkian, mostra fósseis, esqueletos e desenhos, um caderno de apontamentos original e até animais vivos emprestados pelo Jardim Zoológico de Lisboa que recriam a aventura do primeiro cientista que ousou escrever que “O Homem descende do macaco”. O “Beagle”, por exemplo, é uma réplica encomendada do pequeno barco que transportou Darwin durante cinco anos em busca da origem das peças e que pertence ao Museu da Marinha. A viagem foi dura, com Darwin enjoado do primeiro ao último dia e num espaço onde mal se podia esticar. Neste barco, é possível ver “a biblioteca e sala de mapas” onde trabalhavam os três ocupantes durante o dia e onde “à noite, eles estendiam três redes, mas ele era mais comprido do que os outros e, por isso, tinha de tirar uma gaveta da cómoda para ter espaço para os pés”, explicou José Feijó, comissário da exposição. Quando chegou às ilhas Galápagos, encontrou uma exposição viva da sua teoria da selecção natural: “iguanas negras em ilhas basálticas, iguanas de cor em ilhas com outras cores. Isto é, onde os animais estão adaptados ao meio ambiente, verifi ca-se que houve uma divergência nas formas básicas, onde os animais não estão adaptados ao meio ambiente, vê-se que estes animais são exactamente idênticos às condições ambientais de onde vieram”, descreveu. Um contributo fundamental entre milhares que Darwin recolheu na sua longa jornada e que lhe permitiram escrever “A origem das espécies”. Os passos da vida de Charles Darwin estão em exposição até 24 de Maio, na Fundação Calouste Gulbenkian.
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