sábado, 14 de fevereiro de 2009

AMOR de Jorge de Sena

(foto de grENDel)
AMOR

Amor, amor, amor, como não amam

os que de amor o amor de amar não sabem

como não amam se de amor não pensam

os que amar o amor de amar não gozam.

Amor, amor, nenhum amor, nenhum

em vez do sempre amar que o gesto prende

o olhar ao corpo que perpassa amante

e não será de amor se outro não for

que novamente passe como amor que é novo.

Não se ama o que se tem nem se deseja

o que não temos nesse amor que amamos

mas só amamos quando amamos ao acto

em que de amor o amor de amar se cumpre.

Amor, amor, nem antes, nem depois,

amor que não possui, amor que não se dá,

amor que dura apenas sem palavras tudo

o que no sexo é o sexo só por si amado.

Amor de amor de amar de amor tranquilamente

o oleoso repetir das carnes que se roçam

até ao instante em que paradas tremem

de ansioso terminar o amor que recomeça.

Amor, amor, amor, como não amam

os que de amar o amor de amar não amam.

Jorge de Sena, in Peregrinatio ad loca infecta, Portugália, Lisboa, 1969 (poema de 1965)

2 comentários:

Bruno Micael disse...

Acho que esta frase vem mesmo a propósito:
"Em vez do lugar comum prefiro este modo imperfeito de conjugar o verbo amar: quero envelhecer contigo." (Alberto Serra)

Domenico Condito disse...

Olá,
Passei para avisar que tem um prémio no blog “Utopie calabresi” -http://utopiecalabresi.blogspot.com/
Parabéns!