quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pelos Caminhos da Escrita: Projecto de Escrita Criativa

"A escola de hoje vive tempos difíceis, propícios a desalentos vários aos quais professores e alunos fazem frente para que "a luz que cada ser humano transporta dentro de si" não deixe de brilhar com mais intensidade, como defendia o pedagogo Paulo Freire. Local privilegiado de ensino, aprendizagens, construção e partilha de experiências, a escola deve promover o conhecimento e a criatividade junto dos seus alunos. Dentre várias actividades, o Intercâmbio Escolar configura-se como uma forma passível de trilhar esse caminho. Foi com esse intuito que realizámos um intercâmbio entre duas turmas da Escola Secundária/3 de Barcelinhos (ESB) e duas da Escola Secundária de Albufeira (ESA). Este Intercâmbio Escolar foi proposto pela professora Fernanda Lamy, após um encontro, aquando da Final do Concurso Nacional de Leitura em Maio de 2008, com a docente responsável do Plano Nacional de Leitura da ESB, Aida Lemos, tendo objectivos de favorecer, por meio de várias actividades, o conhecimento e a divulgação das escolas e regiões implicadas, de permitir aos alunos contactar com realidades escolares, socioculturais e geográficas diferentes, partilhar informações, aprendizagens e vivências, bem como escrever textos para serem inseridos numa publicação conjunta. Assim, foi gizado um projecto comum, com as finalidades de desenvolver as competências de compreensão e expressão em Língua Materna, bem como a competência de comunicação, assegurar o desenvolvimento do raciocínio verbal e da reflexão, através do conhecimento progressivo das potencialidades da língua, promover a educação para a cidadania, para a cultura e para o multiculturalismo, pela tomada de consciência da riqueza linguística da Língua Portuguesa e contribuir para a formação dos alunos, promovendo valores como a autonomia, a responsabilidade, o espírito crítico, por meio da participação em práticas de língua adequadas e diversificadas. Participaram neste projecto os alunos do 12ºF e 11ºC (ESB) e 10º e 11º (ESA) e os professores Aida Lemos, Elisabete Gonçalves, Florinda Bogas, Carlos Teixeira e José Carlos Cruz (ESB) e as professoras Fernanda Lamy, Ana Casimiro, Regina Caçador, Leonor Tavares e Sandra Pires (ESA). As turmas envolvidas realizaram várias actividades ao longo do ano lectivo, entre as quais duas viagens, a dos alunos de Albufeira ao Norte, mais propriamente a Barcelinhos, Barcelos, Braga e Gerês, em Março, e a dos alunos de Barcelinhos a Albufeira, em Maio, com vista a estreitar os laços iniciados por contactos inicialmente epistolares, por e-mails, entre outros. Uma outra actividade realizada é aquela cujo resultado agora apresentamos: exercício de escrita criativa a várias mãos, de que resultaram dois contos. O conto intitulado "Mergulhando no Verde Mar do Gerês" foi iniciado pela Professora Elisabete Gonçalves, continuado depois pela Professora Ana Casimiro e os seus alunos do 11º Q, sendo retomado novamente pelos alunos do 11º C, sempre com a supervisão da docente desta turma; o segundo conto, "No ar um aroma a alfazema", foi iniciado pela Professora Fernanda Lamy, continuado pelos seus alunos do 10º G, sendo prosseguido e finalizado pelos alunos do 12ºF da Professora Aida Lemos. Afigura-se consensual que, apesar de a nossa comunicação ser preponderantemente oral, todos reconhecem à escrita uma importância capital, por ser indispensável ao exercício da cidadania, ao sucesso escolar, social e cultural dos indivíduos, podendo representar ainda a voz da interioridade, da imaginação, do sentido crítico e da fantasia. Os programas oficiais de Língua Portuguesa/Português reconhecem a escrita como uma das quatro competências basilares, a par da leitura, da oralidade e do funcionamento da língua. Porém, a aprendizagem, o aperfeiçoamento e o domínio da expressão escrita é um processo complexo e moroso, congregando outros domínios que lhe servem de suporte, como a leitura (é lendo que se aprende como outros trilharam caminhos de escrita, é lendo que se desperta a inspiração e se desenvolvem competências e habilidades linguísticas e culturais), o funcionamento da língua (suporte linguístico, sem o domínio do qual o exercício de escrita não o é cabalmente), estando também muito condicionada pela maturidade emocional e cultural do escrevente. Além disto, e sob a orientação do Professor de Português, é preciso igualmente aprender técnicas variadas e conhecer as tradições discursivas, de modo a enquadrar a escrita nos diferentes géneros textuais, bem como interiorizar mecanismos cognitivos e linguísticos para levar a efeito o processo de escrita, factos que implicam uma prática sistemática, intencional e supervisionada. Ao professor cabe ainda a missão de gerir a existência de grande variedade de problemas a ultrapassar numa turma, devido aos diferentes níveis de domínio da escrita de cada aluno, ao elevado número de alunos por turma, ao facto de leccionar várias turmas e níveis, para além do reduzido número de aulas semanais e da imposição do cumprimento de programas, cuja extensão põe frequentemente em causa a sua exequibilidade. Não obstante a difícil “gestão” destes problemas, o professor deve trabalhar para uma aprendizagem contínua e progressiva (em aperfeiçoamento) da escrita, de modo a que o aluno escreva de uma forma cada vez mais consciente, intencional e desbloqueada, numa crescente atmosfera de motivação. Para que tal motivação atinja um nível desejado e se estenda a toda a comunidade discente, é imperativo que se atenue o chamado artificialismo das actividades de escrita, ou seja, impõe-se que haja momentos em que os alunos sejam desafiados a escrever para alguém, além do professor, com uma finalidade, além da avaliação, ou melhor, em que os alunos escrevam com um novo propósito e saibam que as suas produções escritas serão lidas por um público mais alargado, no jornal ou na revista escolar, num blogue da escola ou em publicações como esta que aqui apresentamos. Os exercícios de escrita que constituem o presente trabalho representam um longo caminho de reflexão sobre o processo da escrita, mormente da escrita lúdica, tendo implicado planificação, com guiões iniciais, que visavam assegurar um fio condutor da história, revisões constantes (simultâneas e posteriores à produção), tendo sido imperativa uma orientação redobrada do professor, dado que, sendo produções a várias mãos, o risco de incongruências e de alguma inadequação era redobrado. Assim, com vista a promover a reflexão sobre a construção do texto, sobre o melhor caminho para atingir algumas finalidades de comunicação e valorizando a escrita como um processo, chegámos à produção de dois contos. Foi uma “viagem” difícil, entre Barcelinhos – Albufeira e Albufeira – Barcelinhos, que, apesar dos “mapas” (guiões), obrigou a que o plano de viagem fosse sendo reformulado consoante o “jeito de andar” de cada pé, que, devido à irregularidade do relevo, por vezes se desequilibrava, desembocando em lugares imprevisíveis! Matagais intransitáveis, paisagens desérticas, relevos oblíquos, despenhadeiros! … Tacteia-se onde apoiar o pé da escrita e, com a ajuda do guia, do andarilho da escrita (o professor), estuda-se a manobra e encontra-se uma saída … até que um novo obstáculo obrigue a nova paragem e reacerto. A paciência e a perseverança são, pois, um dos melhores apoios, além do bordão da leitura, do hábito de caminhar e das vivências, conhecimentos e sentires que transportamos e absorvemos. Agradecemos a todos os envolvidos neste projecto de Intercâmbio Escolar, nomeadamente aos órgãos de gestão das respectivas Escolas e especialmente à Câmara Municipal de Barcelos, a quem se deve a publicação deste Pelos Caminhos da Escrita. Projecto de Escrita Criativa, com o qual procurámos caminhar com e pela PALAVRA, ouvindo a sua musicalidade, sentindo na pele a sua sugestão e entregando-nos à aventura literária de criar pessoas, mundos e vivências …" (Nota Introdutória) Aida Sampaio Lemos e Elisabete Gonçalves

1 comentário:

Marta Carvalho ex: 12ºF disse...

Com professoras assim, temos mesmo que nos orgulhar e mostrar que aprendemos um pouquinho da imensidão de conhecimentos que nos transmitiram...
É para comprar o livro...As receitas deviam ser divididas pelos autores...Acho que sim:)!
Um bjinho para todos...