terça-feira, 29 de setembro de 2009

A 29 de Setembro de 1964...Mafalda surge pela primeira vez

Uma rapariga de seis anos, com constantes comentários e perguntas impertinentes sobre o mundo dos adultos e a situação política da Argentina e do mundo, que odeia sopa e adora os Beatles. É assim Mafalda, a personagem que tornou célebre Joaquin Lavado, conhecido no mundo dos cartunes como Quino. Mafalda surgiu pela primeira vez a 29 de Setembro de 1964, no semanário argentino “Primera Plana”. “É a fi gura do humor mais global. Conseguiu penetrar em praticamente todo o mundo”, diz Luís Humberto Marcos, director do Museu Nacional da Imprensa (MNI), espaço do Porto onde decorre anualmente o festival Porto Cartoon. Quino só publicou tiras de Mafalda durante nove anos, apesar do sucesso da personagem. Mafalda seria utilizada apenas em ocasiões raras, como uma campanha da UNICEF sobre direitos da criança, em 1977. Mas isto não impediu que se tenha mantido popular um pouco por todo o lado – em Portugal, Mafalda chegou em 1970, tendo sido editados vários livros e álbuns com tiras da personagem. “A sua durabilidade tem a ver com o que é essencial na própria Mafalda: uma miúda irrequieta com determinados valores que são ícones da sociedade, independentemente da cultura”, refere Humberto Marcos. É o caso dos apelos à paz e ao cumprimento dos direitos humanos, a par de perguntas difíceis sobre o mundo dos adultos, visto sobre a perspectiva, tão ingénua quanto mordaz, de uma criança. Mafalda tem uma “linguagem nas margens da conveniência, do politicamente correcto”, diz Humberto Marcos, em linha com o que Umberto Eco escreveu num prefácio de um álbum de Quino, em 1969: “Uma heroína zangada que recusa o mundo tal como ele é”. “Sendo uma tira cómica, é de intervenção”, que funciona “quase como contrapoder”, diz Marcos. No fundo, é a essência do cartune, que mostra, frequentemente, “como o poder é feito muitas vezes de pés de barro”. O director do MNI defende, por isso, que o cartune é um género jornalístico de opinião. O seu apelo universal deve-se também à sua capacidade de síntese, que mostra a “essência das coisas” - e Quino conseguiu em Mafalda, cujas tiras tinham poucas palavras, um dos melhores exemplos dessa capacidade. O papel de Quino foi reconhecido pela Argentina, que baptizou em 1994 de “Plaza Mafalda” uma praça de Buenos Aires. O autor tem hoje 77 anos e vive entre a Argentina e Itália. (Pedro Rios. In "Página1")

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