sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ruy Belo ( 27 de Fevereiro de 1933- 8 de Agosto de 1978)

A morte da água
Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a esposende ver desaguar o cávado. Existe lá um bar apropriado para isso. Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege. Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore geneológica, visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há água que se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré cheia. E é em esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou, que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida.

Ruy Belo

3 comentários:

Anónimo disse...

Adorei o blog. Parabéns.

Aida Lemos disse...

Obrigada pela visita, miguel ângelo :-)

Anónimo disse...

Ruy Belo é um dos meus escritores favoritos e este é um bonito texto.

Beijinho

Ana Isabel Lopes