quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ana Salomé

(Foto: Pedro Moreira)
«vou ser directa, não vou cumprir o plano da manhã. é preciso falar. levanto-me de madrugada e preparo um sumo de laranja, que bebo na varanda num frio tremendo. não estudo. fico aqui, às voltas com o caderno, a ler poesia. preciso de algo intenso, com urgência. a minha calma não existe, é só um modo de equilibrar a violência dos sonhos, um modo de poder sair à rua sem esconder a face. pergunto-me a que saibo. levo um dedo à boca. molho-o e provo-o de novo. não sei muito mais sobre mim do que este gesto, e uma outra leve impressão por ter passado à frente de espelhos. trago a cintura impaciente, amarrada a uma palavra que se corta no arame desejado pelos dedos. toda a demora delonga esta dor. talvez se venha a descobrir o meu corpo debaixo de terra, onde rebenta uma canção de lava em vapor de prata. nenhum caminho menos intenso, nenhum, te levará lá. »

1 comentário:

Marta Monteiro disse...

LINDO
é bom saber que ainda há jovens talentos tal como Ana Salomé. Mais uma vez, neste texto, ela mostra toda a sua capacidade e talento que tem para a escrita bem como o amor e carinho que trespassam para os seus belos textos.
PARABENS!