(foto de grENDel)
AMOR
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem
como não amam se de amor não pensam
os que amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos
mas só amamos quando amamos ao acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar não amam.
Jorge de Sena, in Peregrinatio ad loca infecta, Portugália, Lisboa, 1969 (poema de 1965)
2 comentários:
Acho que esta frase vem mesmo a propósito:
"Em vez do lugar comum prefiro este modo imperfeito de conjugar o verbo amar: quero envelhecer contigo." (Alberto Serra)
Olá,
Passei para avisar que tem um prémio no blog “Utopie calabresi” -http://utopiecalabresi.blogspot.com/
Parabéns!
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