Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena
Não podemos mudar a hora de chegada,
Bem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
TORGA, Miguel (1995), Câmara Ardente – 3ª edição. Coimbra: Coimbra.
1 comentário:
Passei por aqui e não podia deixar de prestar homenagem a Miguel Torga, escritor que gosto muito. Admiro-o como escritor e como homem. Penso que a sua visão da vida era muito correcta. Pelo menos por aquilo que se percebe dos seus poemas e textos.
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